Você já reparou no número de “selos verdes” estampados nos rótulos dos produtos nas prateleiras do supermercado?
Se você é um consumidor que dá preferência aos produtos ecologicamente corretos, mesmo que eles possam custar mais caro, já deve ter notado a infinidade selos, prêmios e regulamentações que os fabricantes dizem seguir. Os selos trazem folhas, árvores, flores e até urso polar sugerindo que determinado produto tem menos impacto ambiental e sua produção é sustentável.
O problema é que toda a rotulagem ambiental é voluntária no Brasil. “Não há uma regulamentação. As empresas fazem se quiserem e alguns organismos desenvolvem programas quando julgam importante”, afirmou Guy Lavocat, gerente de Certificação de Sistemas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), ao Verdade Inconveniente. Isso significa que nenhuma empresa tem a obrigação de aderir à alguma dessas certificações e têm liberdade para criar seus próprios selos e padrões de qualidade.
Existem dois tipos de selos verdes no Brasil:
- Os independentes, estabelecidos por empresas independentes, entidades reguladoras do governo, organizações não-governamentais e associações empresariais;
- O selo chamado auto-regulador, que é desenvolvido pelo próprio fabricante do produto para mostrar ao consumidor que ele tem algum tipo de preocupação ambiental.
No mundo, cerca de 350 tipos de selos ambientais são usados em 213 países e abarcam 25 setores da indústria, segundo o Ecolabel Index, um banco de dados que agrega informações sobre a rotulagem ambiental. Destes selos, a maioria, 58%, foi criada por organizações sem fins lucrativos. O restante foi criado por organizações que lucram com a certificação, governos e pelas próprias empresas que fabricam os produtos.
Quase metade das entidades emissoras de rótulos não conseguiram ser contatadas, foram difíceis de serem encontradas ou não cooperaram com a pesquisa da Ecolabel. Dos que responderam, 13% não deixam claro os critérios utilizados para a certificação ambiental. E menos de 30% eram reconhecidos por alguma instituição com o objetivo de diminuição da confusão entre os rótulos.
Nos Estados Unidos já existem iniciativas para dar mais rigor ao que dizem os rótulos. No entanto, no Brasil, cabe ao consumidor que se diz consciente buscar as informações, uma vez que não existe uma regulamentação abrangente para todos os selos usados. O Verdade Inconveniente dá uma mãozinha.
Em quem confiar
A primeira dica é buscar informação. Sempre que vir um selo novo no mercado, procure ler o rótulo inteiro e veja quem emite este rótulo. Confira se ele foi feito por uma entidade reconhecida, como ABNT, Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) ou FSC (Forest Stewardship Council). Se você não conhecer quem emite, procure saber mais sobre a organização. Mas se for um selo da própria empresa que fabrica o produto, desconfie e veja se ela fornece mais informações sobre a certificação ambiental. Além disso, o consumidor que se sentir enganado por algo escrito no rótulo ou na propaganda pode buscar mais orientações no Procon.
Ao contrário do que parece, na prática, quem mais clama por certificações ambientais são as próprias indústrias. “Começamos a perceber que as empresas a tinham necessidade de demonstrar que seus processos eram sustentáveis social, ambiental e economicamente. Por isso desenvolvemos um regulamento que está em consulta pública agora. Ele estabelece princípios, critérios e indicadores para avaliar processo produtivos”, afirmou Gustavo Kuster, chefe da divisão de programas de avaliação da conformidade Inmetro, em entrevista ao Verdade Inconveniente.
O selo desenvolvido pelo Inmetro poderá servir para todos os processos produtivos, mas a empresa poderá fazer adaptações quando sentir necessidade. “A ideia é que possamos ter organismos de certificação para avaliar as empresas e para que elas possam demonstrar se têm um política de sustentabilidade, não só uma ação isolada. Até o BNDES, vai usar este documento como base para avaliar financiamento para as empresas certificadas”, explicou Kuster.
Segundo Kuster, o Brasil possui 27 regulamentadores de produtos nos mais diferentes campos: saúde, agricultura, transportes, aviação, entre outros. O Inmetro faz este trabalho onde não há outro regulamentador. “No final de 2000, começou a haver demanda para desenvolver programas de segurança ou de qualidade que considerassem critérios ambientais. Por exemplo, na área de eficiência energética de eletrodomésticos e outros produtos que causam impacto ambiental temos o Procel”, explicou. O Inmetro também cria regulamentação a pedido de outros órgãos. “Temos o Cerflor, feito em parceria com IBAMA, para certificar a qualidade do processo em produtos de madeira”, disse.
A ABNT, representante da ISO (Organização Internacional para padronização) no Brasil, também tem seu rótulo ambiental desde 1992. “Mas só agora, em 2008, é que houve mais demanda por esse tipo de certificação. Retomamos o programa e começamos a desenvolver critérios. Nosso processo tem uma metodologia com participação da sociedade, setor produtivo, entidades de defesa do consumidor e entidades neutras, como universidades. Garantimos que a empresa que ganhar o selo tem um produto com impacto menor”, disse Guy Lavocat, gerente de Certificação de Sistemas da ABNT.
Na dúvida, o consumidor deve verificar se as entidades deixam claros seus critérios para emissão de selos. “O consumidor tem de se certificar que a empresa fez um trabalho adequado”, afirmou Lavocat.
Quando o selo é da fabricante, a dica para o consumidor é desconfiar de declarações vazias, como “verde”, “ecológico” e outras palavras ligadas ao tema, desacompanhadas de especificações concretas. Fique atento com símbolos como o triangulo feito de setas, que pode indicar tanto que o produto é feito de material reciclável quanto que ele pode ser reciclado – sem informações adicionais, não significa nada.
Não confunda os selos ambientais com selos obrigatórios, como o “Livre de CFC”, que é uma obrigação legal de todos os produtos e não uma concessão da empresa fabricante. Para dar uma força extra na árdua tarefa de ser ecologicamente correto, algumas entidades se envolveram na elaboração de um Catálogo Sustentável, onde é possível fazer buscas de produtos e serviços. O IDEC também tem seu Manual de Consumo Sustentável. Vale a pena consultar e boa sorte na jornada!
Fonte: Verdade Inconveniente
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