Estudo do Crea destaca falta de planejamento urbano na Região Serrana (RJ)



Quarta-feira, 26/01/2011
Os técnicos avaliaram a região de Teresópolis e de Nova Friburgo três dias após a tragédia. Eles fizeram mapeamentos e tiraram várias fotografias. Eles apontam soluções para o futuro.

Geólogos comparam enchentes no Brasil a vulcões e terremotos



16.01 - Teresópolis/RJ:  pessoas caminham por rua coberta de lama, ao lado de trator que ajuda na limpeza da região. Foto: EFE
Moradores de Teresópolis caminham por rua coberta de lama, ao lado de trator que ajuda na limpeza da região Foto: EF

Diante da falta de planejamento urbano e da ocupação de encostas perigosas, a tragédia em curso na serra fluminense tende a se repetir em outras áreas, advertem especialistas ouvidos pela BBC Brasil. Eles sugerem a implementação de sistemas de alerta para a população, a desocupação de áreas arriscadas e o planejamento urbano de longo prazo. E, ainda, que as chuvas recebam do Estado brasileiro atenção semelhante à que países com atividades sísmicas e vulcânicas dispensam aos desastres naturais.
Sem tudo isso, outras áreas de risco em todo o País - como encostas de solo raso sobre grandes blocos rochosos, sem rede de esgoto e galerias pluviais - podem sofrer, em verões futuros, o sofrido nos últimos anos nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. "A prevenção aqui tem que ser semelhante à de terremotos no Chile e a de vulcões no Japão", opina o geólogo Marcelo Motta, professor da PUC-RJ. "É preciso que haja continuidade aos planos de mapeamento de risco, remoção das pessoas que vivem em áreas perigosas, planejamento da ocupação urbana e execução desse planejamento".
Motta, que está participando das vistorias das regiões afetadas pelas chuvas recentes na serra fluminense, diz que há populações vivendo em áreas perigosas nas áreas sul, centro e norte da região serrana do Rio. "(Áreas montanhosas) são como uma manteiga derretida. São perigosas, mesmo com florestas. Em áreas assim, não adianta dizer 'moro aqui há 40 anos e nunca aconteceu nada', porque o perigo existe", diz.
"A impressão é que repetimos a mesma fita (de tragédias) todos os anos", diz o geólogo Antonio Guerra, da UFRJ, que também fez estudos na serra fluminense. "Mas falta vontade política para colocar em prática os conhecimentos da academia". Ele opina que não é necessário remover a população de todas as encostas do país. Mas, a partir do mapeamento feito nos municípios, é preciso tirar as pessoas das áreas consideradas de alto risco.
Em geral, diz Guerra, essas áreas têm "solo de pouca profundidade, em cima de blocos rochosos (que podem deslizar). E muitas dessas encostas não têm galerias pluviais e rede de esgoto". Ou seja, a água de uso humano é depositada no próprio solo, que depois fica saturado com as chuvas. Nesse cenário, o deslizamento é quase certo.
Sistemas de alerta
Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Coppe-RJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ), defende a criação de sistemas de alerta para avisar populações em áreas de enxurradas. Ele sugere alertas sonoros, conectados por fiação própria, que avisariam os habitantes para a iminência de temporais e deslizamentos. "Isso não é feito da noite para o dia, mas tem que começar. E é preciso aliar isso à detecção de temporais, com mais radares meteorológicos", diz o diretor do Coppe, instituição que, a pedido do governo Lula, sugeriu formas de prevenção de desastres em Santa Catarina após as enchentes de 2008.
Mas o sistema de alerta, por si só, não resolveria o problema em zonas de alto risco, opina ele. "Para construções em encostas, não há alerta que resolva. Essas construções são derivadas da cultura brasileira de que 'comigo nunca vai acontecer nada'".
Antonio Guerra, que fez um projeto piloto de alerta para um bairro de Petrópolis, sob encomenda estatal, estima que alertas adaptados às necessidades de cada município custariam ao redor de R$ 1 milhão, por meio de convênios com universidades, e poderiam ser preparados em até dois anos. "É um custo muito menor do que o das verbas liberadas para o atendimento de emergência".
Mapas de risco
Apesar de alguns dos municípios serranos fluminenses terem planos de identificação de risco desde 2007, as imagens da tragédia mostravam "a ocupação humana em áreas de escoamento", diz Elson Antonio do Nascimento, professor de engenharia civil da Universidade Federal Fluminense (UFF) que trabalha com planos de áreas de risco e encostas.
"Mas não vemos mobilização estratégica, de longo prazo. Os municípios têm planos municipais, mas não os implementam. As iniciativas se diluem", opina. Para Pinguelli Rosa, "muitas vezes os moradores não são avisados de que um plano identificou que eles estão em área de risco. É preciso fazer as informações

Planejamento poderia evitar as tragédias que se repetem

17/01/2011 09h0



Todos os anos a história se repete. Chega o verão, com ele vem as chuvas, e centenas de pessoas morrem, vítimas delas. Tragédias que poderiam ser evitadas, com planejamento urbano, sistemas de alerta, treinamentos de equipes de resgate, e, educação. Tudo de forma séria e eficaz.

Fonte: http://mais.uol.com.br/view/8999725

Teresópolis incentiva moradores na reconstrução da cidade

Prefeitura e governo estadual oferecem curso profissionalizante na área de construção civil para 380 pessoas

iG Rio de Janeiro | 23/01/2011 16:31

O plano é capacitar 380 pessoas, segundo o Secretário Municipal de Trabalho de Teresópolis, Marcos Ferreira dos Santos. Apesar das chuvas que atingiram a cidade, não há registro de aumento de desemprego na cidade. Pelo contrário, cresceu o número de empresas interessadas em empregar moradores de Teresópolis, segundo informa a Prefeitura.Moradores de Teresópolis serão estimulados a ajudar na reconstrução dos bairros atingidos pela tragédia das chuvas. Cursos profissionalizantes na área de construção civil serão oferecidos à população local pela Prefeitura em parceria com o governo do Estado do Rio.
“Apesar do momento turbulento, os empresários apoiam o trabalho que está sendo feito e abrem oportunidades de emprego. No caso de vagas em outros municípios, verificamos salários e benefícios, para assegurar os direitos e a dignidade dos nossos trabalhadores", afirma Santos, por meio de nota.

Reconstrução de Teresópolis pode levar até dois anos, diz prefeito


Jorge Mário se reuniu com líderes comunitários para anunciar ações.
Vinte bairros foram atingidos e 42 pontes, danificadas.

Do G1 RJ
Prefeito de Teresópolis Jorge MárioPrefeito de Teresópolis em reunião com
líderes comunitários
(Foto: Marco Esteves / Prefeitura de Teresópolis)
A reconstrução da cidade de Teresópolis, na Região Serrana do Rio, pode levar até dois anos. A previsão, do prefeito Jorge Mário, foi anunciada em reunião com líderes comunitários da cidade nesta terça-feira (25).
Segundo balanço da prefeitura, 20 bairros foram atingidos e 42 pontes, danificadas, além de ruas e estradas. Até a tarde desta terça 327 pessoas morreram em decorrência das chuvas na cidade. Em toda a Região Serrana, o número já passa de 800.
“O projeto de reconstrução de Teresópolis pode levar até dois anos, mas estamos prontos para enfrentar esse desafio. É com a união de todos que vamos alcançar mais rápido os resultados que queremos. Teresópolis será referência de reconstrução para o Brasil e o mundo”, disse ele.
80% das redes hoteleira e gastronômica funcionam normalmente, diz prefeitura
Apesar do estado de calamidade, o prefeito ressaltou que mais de 80% das redes hoteleira e gastronômica já operam normalmente no município.
Os bairros mais atingidos por deslizamentos de terra e enchentes foram Barra do Imbuí, Caleme, Espanhol, Fazenda da Paz, Fischer, Granja Florestal, Jardim Serrano, Loteamento Feo, Paineiras, Parque do Imbuí, Posse e Vale Feliz, na Zona Urbana; além das localidades de Bonsucesso, Mottas, Pessegueiros, Poço de Peixes, Providência, Três Córregos, Vale Alpino e Vieira, na Zona Rural.
500 toneladas de lixo
“Além de recursos emergenciais, temos a certeza que vêm recursos federais e estaduais para a reconstrução de pontes e estradas, para obras de contenção de encostas e a construção de conjuntos habitacionais. Nossa meta é entregar até o fim desse ano cerca de duas mil casas populares”, afirmou Jorge Mário.
Desde o início da ações, depois da forte chuva do dia 11 de janeiro, cerca de 1.500 agentes federais, estaduais e municipais atuam na cidade, com cerca de 200 equipamentos, entre caminhões, retroescavadeiras e tratores de esteira, que ajudaram a recolher cerca de 500 toneladas de lixo.

Reconstrução de Teresópolis deve custar R$ 598 milhões, diz relatório da prefeitura

 Ainda segundo o documento, serão necessários R$ 98 milhões só para liberar as ruas e limpar as estradas.

O prefeito de Teresópolis se reuniu nessa quinta-feira (13) com a presidente Dilma Rousseff, o governador Sérgio Cabral, ministros e senadores e entregou um relatório preliminar da situação na cidade em que se chegou à conclusão que serão necessários R$ 98 milhões só para liberar as ruas e limpar as estradas. A reconstrução da cidade de Teresópolis deverá custar R$ 598 milhões. A prefeitura já liberou R$ 5 milhões para situações de emergência.

Foi assinado um decreto para a criação de um fundo, o SOS Teresópolis, para a compra de móveis e eletrodomésticos para as famílias desabrigadas. São cerca de três mil pessoas nessa situação. E esse número assim como o número de mortos só aumenta. Ao todo, 2,5 mil casas serão liberadas pelo Aluguel Social para as famílias atingidas pelas chuvas.

Casas à prova de inundações e furacões

Por Verônica Díaz Favela - IPS/IFEJ


Durante oito anos, um engenheiro mexicano visitou lugares afetados por furacões, com o objetivo de criar uma casa capaz de resistir a eles.
MÉXICO, 31 de agosto (Tierramérica).- O mexicano Federico Martinez nasceu em terra de ciclones. Quando criança viu o vento arrancar árvores e fazer rodar casas de madeira “como se fossem caixas de sapato”. Adulto, desenvolveu uma casa que suporta ventos de 300 quilômetros por hora e inundações de três metros de altura. A casa criada por este engenheiro do Instituto Politécnico Nacional (IPN) é uma resposta à recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) para que os países desenvolvam moradias que suportem fenômenos meteorológicos severos.

Protótipo de casa desenvolvido no México resistente a furacões e inundações
O quarto informe do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática, vinculado à ONU, alerta para o aumento de ciclones e furacões devido à elevação da temperatura no planeta, bem como para o fato de que o nível do mar pode subir até um metro antes do final deste século.


Martinez desenvolveu esta tecnologia em sua empresa, a Ingeniería Creativa em Acero (Creacero), com apoio do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do IPN. “Fiz vários projetos de casas à prova de ciclones e, durante anos, após cada ciclone ia ver como eram afetadas”, recordou. Ele cresceu na cidade de Madero, no Estado de Tamaulipas, no Golfo do México, e em mais de uma ocasião viu como, após os ciclones, pessoas e animais morriam ao pisar em cabos de eletricidade e outros desapareciam arrastados pelas correntes das inundações.


Sua preocupação se transformou em uma resposta a este fenômeno. Desde o final de julho, os visitantes do Centro de Difusão de Ciência e Tecnologia (Cedicyt) do IPN, na cidade do México, podem ver dois protótipos de casas e um de escola-abrigo construídos por Martinez. Com aparência que não difere de qualquer casa com detalhes em branco e violeta, são construções resistentes a furacões de grau 5, o máximo na escala Saffir-Simpson, que mede a intensidade dos ventos. A casa “é uma caixa de aço recoberta por concreto”, disse Martinez ao Terramérica.


As casas são pré-fabricadas, medem 42 metros quadrados, e possuem dois dormitórios, sala, banheiro e cozinha. Também têm uma cúpula e pequenas janelas nas partes inferior e superior das paredes, que formam “um sistema de convecção do ar: o ar quente vai para cima e neste caso as janelinhas da parte superior servem para deixá-lo sair, e as de baixo para repor o ar”, explicou Martinez. As janelinhas são de vidro e têm uma proteção em malha, para evitar danos aos moradores caso se quebrem.


As casas foram projetadas para serem construídas em zonas costeiras. O México tem 15 Estados com litoral. “São muito quentes e vulneráveis ao efeito dos furacões e dos ciclones”, disse ao Terramérica o coordenador do Programa de Mudança Climática e Sustentabilidade do IPN, Victor Manuel López. No total, “5% do território nacional, quase dois milhões de quilômetros, possui costa, e tudo o que está aí, tanto pessoas quanto infraestrutura, é vulnerável a furacões, inundações e ao aumento do nível do mar”, acrescentou. No Estado de Quintana Roo, “há comunidades de pescadores que já pedem a construção de um ‘malecón’ (quebra-ondas) de oito quilômetros e que sejam reassentados, e algumas testemunhas dizem que o nível do mar estava em um lugar e que agora está em outro”, afirmou.


Para os casos de inundações, uma das casas desenvolvidas por Martinez está montada sobre pilares de 2,80 metros de altura. “As inundações passam por baixo da casa sem causar danos, a menos que a água suba mais de três metros, que seriam casos muito especiais”, explica o engenheiro. Enquanto a água não chega, a área inferior da moradia elevada pode ser usada como garagem, para reuniões ou descanso. A casa térrea tem custo aproximado de US$ 32 mil, e a elevada de US$ 64 mil, considerados os valores de uma construção artesanal. Porém, os preços cairão dois terços com a industrialização do processo e também diminuirá o tempo de produção.


Construir os protótipos no Cedicyt demorou oito meses. “Com a produção industrializada, nossa capacidade será de cinco minutos para fabricar o perfil de aço e as vidraças para uma casa”, assegurou ao Terramérica Herón Colín Suárez, diretor administrativo da Creacero. A pré-fabricação “permitirá que seja construída em tempo muito curto e em qualquer lugar, inclusive onde não há energia elétrica, porque pode ser aparafusada. Haverá um manual com instruções sobre como montá-la e peças para que sua construção seja muito rápida, sem a necessidade de mão-de-obra especializada”, explicou.


A Creacero está em busca de financiamento para montar uma fábrica. É preciso montar duas máquinas, ter um elevador de cargas e pessoal capacitado. O investimento necessário é de US$ 2,5 milhões. Além de casas, essa fábrica poderá produzir materiais para construção de escolas, hospitais e qualquer tipo de edifício. Um exemplo é o terceiro protótipo instalado no Cedicyt, uma escola-abrigo de seis metros por 15, destinado a aulas e também para ser um lugar onde as pessoas possam se abrigar quando chegarem os ventos dos furacões.


Os protótipos, projetados para suportar ciclones, também podem resistir a outros fenômenos extremos, como tornados, avalanches e terremotos, de acordo com o engenheiro. López afirmou que no Japão também foram desenvolvidas casas resistentes a furacões e inundações, construídas em Bangladesh. A vantagem do modelo mexicano é que elimina o importante custo de importação de tecnologia, ressaltou.


O México poderá sofrer perdas econômicas de até US$ 1,7 bilhão por danos em suas costas do Atlântico e do Pacífico na atual temporada de furacões, alertaram empresas seguradoras em um seminário realizado no começo deste ano. Segundo o Serviço Meteorológico Nacional, o litoral mexicano poderá ser afetado por 24 ciclones em 2009. “O governo já tem prontos os procedimentos de albergues onde há serviços e concentração de pessoas”, mas “estas soluções foram pensadas para grandes populações e não para populações rurais”, disse López. O valor das casas do IPN e da Creacero é que foram projetadas para serem construídas facilmente em zonas rurais.

Este artigo é parte de uma série produzida pela IPS (Inter Press Service) e pela IFEJ (Federação Internacional de Jornalistas Ambientais) para a Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.complusalliance.org).

Casa popular contra terremotos e furacões é apresentada no 5° Fórum Urbano Mundial


Das madeiras serradas, painéis e compensados são construídas casas populares de baixo custo e resistentes a desastres, como furacões e terremotos. Além disso, o mobiliário urbano do entorno também é todo sustentável e pronto para enfrentar abalos sísmicos. Durante o Fórum Urbano Mundial, que acontece até sexta-feira, o Conselho Euro-Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (EUBRA) apresenta o projeto Home4Haiti, com tecnologia inspirada na muralha da China. O modelo de residência foi desenvolvido por arquitetos brasileiros e italianos e pretende contribuir para a reconstrução do Haiti.
No projeto há dois tipos de casas, ambas de 50 metros quadrados, incluindo dois dormitórios, sala, banheiro e cozinha. A primeira faz uso de tijolos queimados, cimento e estrutura em aço. O prazo para construção é de, no máximo, 20 dias e o custo da casa pronta é de R$ 8 mil. Já a segunda é feita de madeira reaproveitada do Pará e do Maranhão. O custo da casa fica entre R$ 9 mil e R$ 11 mil, sem a montagem.
“A gente bolou um sistema de ventilação forçada, uma tecnologia simples, para que a casa possa ser vedada em casos de furacão. Para proteger a residência de terremotos, a gente usou pneus velhos, suporte de aço e tijolos solo cimento para fazer o amortecimento dos pilotis”, explica o presidente da EUBRA, Robson Oliveira.
Detalhe do sistema de amortecimento da casa
Móveis utilitários também são feitos com sobras de madeiras. A tecnologia de iluminação LED abastecida por energia eólica e solar, usada nas luminárias de rua, é proveniente da China e será transferida para o Brasil e o Haiti. O projeto prevê que as comunidades brasileiras e haitianas envolvidas sejam beneficiadas pelo projeto através de formação técnica, geração de emprego e renda e, portanto, melhor qualidade de vida.

Tecnologias para prevenção de deslizamentos de terra

Por: Prof. Ricardo Alvim
Doutor em Engenharia Civil / Estruturas
Professor da UESC/DCET
A tragédia que afetou a zona serrana do Rio de Janeiro traz imediatamente o questionamento sobre quais medidas poderiam ser tomadas para evitar ou prevenir eventos de extensão como as verificadas. Todavia, a questão é complexa e envolve múltiplas variáveis. E o seu entendimento, e buscas por soluções, diferentes especialidades e tecnologias.

No sentido de buscar uma reflexão sobre o que poderia ser feito no futuro para prevenir ou minimizar os efeitos mortais de desastres naturais como esse, busca-se aqui apresentar algumas tecnologias e estudos realizados no mundo sobre o tema e seus resultados.

Primeiramente, é necessário considerar que talvez nenhum desses estudos pudesse prever algo da magnitude dos episódios registrados no estado do Rio de Janeiro, mas é dever da Engenharia Civil nacional buscar novos estudos e avançar rumo a novas pesquisas, o que certamente exigirá investimentos na área de Geotecnia, Hidromecânica, Estruturas, entre outras.

Um dos problemas da zona serrana do Rio afetada pelo desastre é que as encostas nessas cidades foram ocupadas de forma desordenada. Mas essa é uma realidade que se estende por todo o país e não cabe aqui um pré-julgamento sobre causas e culpados. 

Então, buscar novos estudos e pesquisas vai ao encontro das necessidades brasileiras, e não apenas do Sudeste. Em menores proporções, assistiu-se nos últimos anos tragédias também em estados do Nordeste, como Alagoas e Pernambuco, recentemente. Mas nada que se assemelhe ao que aconteceu no Rio este ano, talvez entre as maiores tragédias desse tipo registradas nos últimos 100 anos no mundo.

Por outro lado, a ocupação das encostas não explica inteiramente a tragédia no Rio. A avalanche, de lama, água, pedras, árvores e outros materiais, veio como uma massa letal, com grande inércia, destruindo tudo pelo caminho e atingindo as zonas mais baixas das encostas também.

Não é possível afirmar se essas zonas também seriam atingidas sem a ocupação das encostas. Todavia, é certo que essas cargas e, principalmente, as mudanças aceleradas desses carregamentos no tempo contribuem para eventos dessa natureza. Por isso, o marco legal de ocupação do solo deve também ser vinculado a questão. O que pode encontrar elementos técnicos da Geotecnia para a definição das áreas que podem ou não ser ocupadas.

A primeira etapa nesses estudos sobre prevenção de avalanches, de terra ou neve, passa pela elaboração de modelos computacionais que permitam entender o comportamento da encosta carregada, como neste estudo de Francesca Casini, Sarah M. Springman e Amin Askarinejad (do ETH Zürich, Institute for Geotechnical Engineering) e John Eichenberger, Lyesse Laloui (EPF Lausanne, Soil Mechanics Laboratory).

Por este modelo hidromecânico, Fig. 1, é possível, por modelos constitutivos e de elementos finitos, prever o ponto crítico de deslizamento de solos insaturados sob condições de permeabilidade e infiltração de chuva.

Fig. 1 - Modelo hidromecânico de comportamento do solo nas encostas carregadas

Deformações desviadas são observadas na iminência do colapso, com compressão das regiões na montante da massa deslocada, e na parte inferior da zona colapsada. O que permite buscar zonas de interesse para monitoração, Fig. 2.


Fig. 2 - Deformações desviadas e compressão da base do talude



É necessário compreender que a saturação do solo pode contribuir para o deslizamento do solo e aumentar o risco de deslizamentos de taludes, aumentando o peso da camada sobre o talude e diminuindo a resistência ao cisalhamento do solo pelo aumento da pressão da água, como no estudo realizado por Peter Kienzler (Institute for Geotechnical Engineering, ETH Zurich) e Cornelia Brönnimann (GEOLEP, EPFL). As características de saturação e drenagem do solo são decisivas  para o controle e prevenção ou avisando sobre a forma do colapso, Fig. 4.











Fig. 4  -  Drenagem do   solo


Na monitoração de um talude por 11 dias, em uma área de 5 m x 10 m, instrumentada, em Wiler (Lötschental, VS), foi possível verificar que uma combinação de atrito interno e drenagem do solo foi responsável pela continuação estável do deslizamento, Fig. 5.




Fig. 5 - Controle de drenagem do solo


Outras tecnologias vêm sendo adaptadas para detecção de avalanches, para prevenção de deslizamentos de solos, como no estudo realizado por Gernot Michlmayr (1), Alec van Herwijnen (2), Jürg Schweizer (2), Denis Cohen (1), Dani Or (1). (1) ETH Zürich, Soil and Terrestrial Environmental Physics; (2) WSL Institute for Snow and Avalanche Research SLF, Davos.

Neste estudo, buscou-se identificar o deslizamento pela monitoração de ondas de choque e controle de vibrações na iminência do colapso, Fig. 6.


Fig. 6. Equipamentos para monitoração da vibração da massa

Na análise dos solos, verificou-se uma relação entre os picos (amplificações do sinais monitorados por acelerômetros) com as relações entre as emissões de ruídos e as forças de cisalhamento. Na Fig. 7, as tensões de cisalhamento, em azul, e as taxas de emissão acústicas (AE), em vermelho, mostram grandes amplificações, picos de emissão acústicas, em laranja, acontecendo juntamente com saltos das forças de cisalhamento resistentes, em azul.

Fig. 6 - Relações entre tensões de cisalhamento e emissões acústicas

Vale mencionar que o Brasil possui, em sua comunidade técnica, pesquisadores envolvidos com estudos semelhantes, que certamente poderão contribuir com métodos preventivos e novas tecnologias para minimização dos efeitos de deslizamentos de terra com a diminuição do número de óbitos.

Para isso, o país deve refletir sobre a necessidade de novas pesquisas nessas áreas. Por muitos anos, o Brasil foi considerado um país livre de desastres naturais. Em todo mundo, milhões de dólares são investidos em prevenção de desastres e minimização de seus efeitos, em terremotos, maremotos, furacões, entre outros. 

Por aqui, é preciso repensar as linhas de financiamento e também as prioridades dos orgãos de fomento, permitindo desenvolver essas áreas do conhecimento das engenharias.