Resenha do texto "Tolerância e inclusão das pessoas com deficiência", de Elizabeth Cristina Costa

Quando se trata de deficiências físicas, sensoriais ou cognitivas, o extremamente nos assusta e nos inibe. A intolerância em relação às pessoas com estas deficiências ainda existe em pleno século XXI e as pessoas que as possuem não possuem reconhecimento e respeito ao exprimir suas qualidades de seres humanos.

As pessoas com deficiência sofrem a intolerância expressa nos impedimentos sociais que lhes são impostos por uma sociedade que se condiera são e que reage pelo medo, pela agressão, pelo desrespeito e pelo isolamento e consequentemente alimenta-se os círculos de intolerância. Na maioria das vezes, a sociedade eliizada, egoísta e preconceituosa produz dictomias e hierarquias entre aqueles que são deficientes e os que não são, rejeitando as diferenças humanas, abstraindo-as promovendo a segregação e a exclusão social.

Sob inspiração da sociologia das ausências (Santos, 2006, p. 24), as pessoas com deficiência acabaram assumindo formas desqualificadas de ser e viver sob imposição da sociedade. O ignorante (limitação corporal e intelectual), a residual (segregação torna-se uma forma de esconderijo para o ser humano que não cabe nos moldes da sociedade), o inferior (quando a diferença naturaliza dicotomias hierárquicas), o local (assessibilidade) e o imprdutivo, são algumas destas formas.

Para superar a intolerância, deve-se construir relações despidas de hierarquia, em que prevalece o conhecimento mútuo, pois o preconceito se vence com conhecimento. E as pessoas com deficiência, ter conhecimento construído no ato de encontrar (pessoas com e sem deficiência) nos diversos espaços sociais. Para educar para a tolerância necessita-se buscar compreender a condição humana vislumbrando a possibilidade de convivência entre todas as pessoas e reconhecer a cultura humana em sua complexidade e respeitá-la, olhando para as pessoas com deficiência como pessoas que compõem o universo social e que têm um modo diferente e digno de viver e aprender.

Todos precisamos ter condições de fazer algum percurso. Assim, podemos dizer que as condições concretas para o exercício da tolerância em relação às pessoas com deficiência remetem-nos ao tema da acessibilidade, que associa-se a construção de espaços sociais e que garantam a condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação.

As experiências de inclusão nos diversos espaços sociais (educação, trabalho, lazer etc.) realmente têm demonstrado que o medo do encontro somente desaparece no ato de encontrar. Quando passamos a conviver com as pessoas com deficiência, nós descobrimos quem realmente são estas pessoas. Nosso olhar converte-se da deficiência para a nossa diferença. Além da acessibilidade física e comunicacional, é necessário construir com a construção das relações de tolerância e respeito entre todas as pessoas.

A deficiência do outro desafia ao reconhecimento de nossa própria vulnerabilidade tornando-se fundamental o entendimento de que a dignidade humana é inviolável que garante a vida digna em meio às situações de vulnerabilidade humana da existência. O seu reconhecimento transforma a fraqueza em força, a incapacidade em capacidade, as deficiências em diferenças formas de ser, viver e conhecer.

Respeitando e considerando a condição humana das pessoas com deficiência em sua complexidade, poderemos incluir no “ser” humano novas categorias, tais como: ser cego, ser surdo, ser surdo-cego, ser paraplégico, ser tetraplégico, ser autista etc. E além disso, daríamos visibilidade à vulnerabilidade humana com todos os seus desafios postos, onde fraqueza, dor, medo, erro, instabilidade e a incapacidade, por exemplo, poderão também ser categorias que nos ensinam no exercício da tolerância.

Comentando o texto "Henri Lefebvre e o retorno à dialética"

Henri Lefebvre sintetiza o projeto que unifica sua extensa obra, mais de 70 volumes, aderindo ao marxismo de maneira crítica pelo fato de achar a obra de Marx “postiçamente concluída” por pensar, idealizar e viver em sua prória época. Lefebvre encontra em Marx o homem que começou a construir e sintetizar as indagações historicamente fundamentais de seu tempo, as perguntas não respondidas e as questões não resolvidas da época que com ele se inicia.

Lefebvre retoma uma das principais idéias de Marx, a alienação, na relação entre o homem e a natureza. O homem para atender suas necessidades, modifica a natureza e suas próprias condições de vida, constituindo-se como humano, mas critica sua tese, em “A Ideologia Alemã”, da formação econômico-social. Lefebvre já carrega consigo o intuito de datação das relações sociais que nem sempre possuem a mesma origem e todas sobrevivem de diferentes momentos e circunstâncias históricas.

Além da alienação, Lefebvre adere a outros pensamentos de Marx, mas os relacionando na época atual. A lei de formação econômico-social é a lei do desenvolvimento desigual em que as forças produtivas, as trelações sociais, as superestruturas (políticas e culturais) não avançam igualmente, simultâneas, no mesmo ritmo histórico e entende que a desigualdade dos ritmos dodesenvolvimento histórico decorre do desencontro que na práxis faz do homem produtor de sua própria história e, ao mesmo tempo, o divórcio dela, não torna o senhor  do que faz. Sua obra ganha vida própria. A formação é econômica e social porque abrange simultaneamente esses dois âmbitos da práxis: a natureza (o econômico) e a sociedade (o social). O homem constrói relações sociais e concepções, idéias, interpretações que dão sentido. Reproduz, mas também produz, isto é, modifica, revoluciona a sociedade, base de sua atuação sobre a natureza, inclusive sua própria natureza.

A pobreza, segundo Lefebvre, ganha um significado bem diverso da concepção limitada de pobreza material que era característica da época de Marx. A necessidade de tempo de trabalho é imensamente maior do que era há um século e uma das grande pobrezas é a pobreza do tempo. Lefebvre indica imensas possibilidades tecnológicas e científicas do nosso tempo que chegam à vida cotidiana das pessoas como chuvas residuais daquilo que foi prioritariamente destinado à constituição e alimentação dis sistemas de poder, e não ao próprio homem.

O que possibilitou aqui este entendimento das espacialidades diversas e sobrepostas foi o método regressivo-progressivo14 , proposto por Henri Lefebvre, e no qual procuramos nos apoiar. Tal método supõe os seguintes momentos: primeiro faz-se uma descrição horizontal da realidade presente, observando, ouvindo, levantando elementos, descrevendo, sem nos preocuparmos ainda com a análise das diversas temporalidades existentes e sobrepostas. Num segundo momento, com os olhos do presente, voltamos ao passado para compreendê-lo, desvendá-lo, elucidá-lo. Tratase do momento analítico-regressivo, que parte do preceito formulado inicialmente por Marx, de que “o atual permite compreender o passado e a sociedade capitalista as sociedades anteriores, porque desenvolve as categorias essenciaisdessa. É neste momento analítico que procuramos compreender as diversas temporalidades da história que continuam presentes no atual, mas que datam de outros tempos. Trata-se, pois, de um mergulho vertical na realidade social. “O que no primeiro momento parecia simultâneo e contemporâneo é descoberto agora como remanescente de época específica. O terceiro momento é o histórico-genético, “no curso do qual o proceder do pensamento volta até o atual, a partir do passado já decifrado, apreendido em si mesmo. Daí, a partir deste reencontro com o presente já elucidado pelo realizado, pode-se entender o possível, o virtual (futuro). Tendências e virtualidades são sempre plurais, e o que é impossível hoje pode tornar-se possível no futuro e vice-versa. Este método permite, como se vê, uma ampla compreensão da realidade vista em sua complexidade, não a partir de uma história da simples sucessão linear de fatos. O tempo não é definido somente por linearidades, mas também por seus desencontros e descontinuidades. Além disso, segundo Lefebvre esse método deixa lugar para estudos locais, em diversas escalas, inserindo-os na análise geral, na teoria geral. Atualmente vivemos, segundo Henri Lefebvre, numa sociedade que tende para a urbanização completa, da qual ainda não conseguimos compreender bem a lógica e as contradições concretas, porque um “campo cego” se define, ou seja, olhamos para o urbano com os olhos e a perspectiva da sociedade industrial (sua antecessora). Assim, olhamos e não enxergamos o que está diante dos olhos na realidade sensível em sua turva transparência. (LEFEBVRE, 1999b) Daí, também, a dificuldade de entender o processo de desestruturação dos bairros, que nas condições atuais da urbanização transformam-se no que aqui denominamos de porção imersa na metrópole. Agora, discutidos ainda que brevemente o método e a teoria que dão sustentação a esta pesquisa, é possível afirmarmos que é a porção imersa na metrópole que revela o bairro e as suas características, assim como a porção imersa e o bairro revelam a localidade rural. Como dissemos na Introdução, devemos partir sempre do presente. A regressão sempre parte do presente, em enorme complexidade. Tais espacialidades (localidade, bairro e porção imersa) comportam-se, em realidade, como camadas superpostas, interpenetradas e, eventualmente, absorvidas umas nas outras. Essas espacialidades podem ser compreendidas a partir da teoria do espaço diferencial, segundo a qual “as diferenças que emergem e se instauram no espaço não provém do espaço enquanto tal, mas do que nele se instala, reunido, confrontado pela/na realidade urbana. Contrastes, oposições, superposições e justaposições substituem os distanciamentos, as distâncias espaço-temporais”. Além disso, cumpre esclarecer que essas espacialidades diversas da Água Branca estão vinculadas a um movimento mais amplo (que se dá em escala planetária, não ao mesmo tempo e no mesmo ritmo em todos os lugares), decifrado por Lefebvre, que vai do rural ao urbano, passando pelo industrial. “Nesse percurso, (há uma) complexificação da sociedade, quando ela passa do rural ao industrial e do industrial ao urbano” (LEFEBVRE 1999b:153). O espaço e a sociedade têm esse movimento, que não se dá de forma linear, mas com passagens críticas (zonas ou pontos críticos), repletos de conflitos e contradições, além do que, vale insistir, tais passagens não se dão de forma absoluta, na medida em que a sociedade urbana sempre vai trazer consigo resíduos das eras industrial e agrária. “A cidade, sua explosão, a sociedade urbana e ‘o urbano’ em emergência, superpõem suas contradições às da era industrial e da era agrária” (LEFEBVRE, 1975:12). Pois bem, tendo-se em conta a definição de bairro e a teoria exposta neste item, bem como a reconstituição histórica da Água Branca, propomo-nos agora, retomar algumas questões centrais expostas neste artigo, a partir do plano propriamente empírico, restabelecendo a discussão em outro patamar, ensaiando um mergulho no cotidiano. Isso porque é a perspectiva do cotidiano que irá fundamentar com mais clareza as descobertas deste trabalho.

O único e homogêneo na produção do espaço

A expressão “produção do espaço”, provavelmente cunhada por Lefebvre no final
dos anos 60, visa responder aos processos de reprodução das relações capitalistas de produção. O espaço para Lefebvre (1974) consiste, grosso modo, no lugar onde as relações capitalistas se reproduzem e se localizam com todas as suas manifestações de conflitos e contradições. Embora Lefebvre tenha contribuído para análise espacial ao incluir a idéia de produção do espaço na tese reproducionista, esta não representou, de acordo com Smith (1988, p. 142), uma “ruptura radical com a tradição marxista clássica, especialmente (...) no que diz respeito à produção da natureza e à relação entre natureza e espaço”. No final dos anos 70, a imunização contra o pragmatismo descritivo da disciplina, assume a forma de uma concepção estrutural de sociedade e de espaço cujo foco das análises dirigia-se para as contradições, os conflitos e os antagonismos inerentes aos movimentos da estrutura social. Logo, o espaço revelava no conteúdo de suas formas as mesmas contradições que o produziram. Essas, por sua vez, geravam também as condições de reprodução das relações sociais. Nesse sentido, o espaço é resultado e, ao mesmo tempo, condição da reprodução social. Em outras palavras, o espaço consiste em um “efeito” que se transforma em “causa”, ou, um resultado que se transforma em processo. Para Santos (1991, p. 38), a idéia central da interpretação da produção espaço situase na combinação simultânea entre a forma, a estrutura e a função. Isso porque, “os movimentos da totalidade social modificando as relações entre os componentes da sociedade, alteram processos e incitam funções”. Essa totalidade social, crê o autor, pressupõe a existência de um movimento dialético da estrutura que opera sobre as formas e funções, fazendo com que os lugares tornem-se combinações de variáveis que diferenciamse ao longo do tempo. A diferenciação entre as variáveis resulta tanto da periodização histórica, pois atravessam épocas posteriores ao seu surgimento e convivem com variáveis novas, quanto de suas formas de espacialização, isto é, do seu lugar de origem e de sua difusão territorial. Nesse sentido, é a idéia de movimento da totalidade no tempo e no espaço que fundamenta a concepção de que o espaço é produzido no e pelo movimento da totalidade social. Consiste, portanto, em uma “geografização” do movimento estrutural da sociedade que se traduz espacialmente em novas formas e funções e estas, ao se combinarem para atender as necessidades geradas pelos “efeitos” de reestruturação dos processos de organização das relações sociais, produzem o espaço. Neste caso, a idéia de produção do espaço torna-se prisioneira de sua conotação técnica e econômica e adquire a noção de fabricação repetitiva de formas e geração de movimentos. A produção do espaço consiste, então, na realização prática de produção de objetos
“geograficizados” segundo uma dada lógica econômica, e destinam-se a cumprir funções diferenciadas em sintonia com as necessidades de reprodução das relações sociais de produção e da divisão social do trabalho. A “produção” significa, então, “trabalho morto” e organização.

Referência Bibliográfica
http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/geousp/Geousp15/Artigo6.pdf
http://www.rc.unesp.br/igce/grad/geografia/revista/numero%203/eg0201pg.pdf

Bairro Centro


Rua Carijós. O comércio
Foto: Rogério França PBH


Rua Rio de Janeiro. A verticalização.
Foto: Antônio Rodrigues – PBH 
Praça Sete
Arquivo PBH


O bairro Centro consolida-se como referência comercial, financeira e política da região metropolitana de Belo Horizonte. O Centro é o lugar em que o comércio e os serviços da cidade se concentram.

A verticalização (construção de grandes e inúmeros edifícios devido à diminuição de espaço físico plano para a construção de edificações) é predominante. 
Dificilmente encontramos casas. 

A característica principal da região central é que todas as ruas se cruzam em ângulo de 90 graus, e, cortando as ruas em quase 45 graus, estão algumas avenidas, como Amazonas e Afonso Pena. Como as avenidas vão no sentido norte-sul ou leste-oeste e as ruas nos sentidos colaterais (noroeste-sudeste e nordeste-sudoeste), um cruzamento de avenidas forma quase uma rosa dos ventos geográfica, com uma variação de aproximadamente 15 graus de diferença no sentido horário.



Funcionários

Ainda encontram-se casas como esta no bairro Funcionários.
Foto: Clarisse Lessa


Prédios comerciais luxuosos.
Foto: Clarisse Lessa
O bairro Funcionários, localizado na Seção Urbana do plano do engenheiro Aarão Reis para a cidade, como o próprio nome diz, foi reservado para as residências dos funcionários públicos que viriam trabalhar na nova capital.

Essas casas, de estilo eclético tinham tamanho, tipologia e luxuosidade variáveis de acordo com a importância do cargo do morador. Atualmente, elas vêm sendo pouco a pouco demolidas ou agregadas a modernos edifícios, normalmente residenciais, que são construídos no bairro.


Bairro predominantemente residencial. As calçadas são largas e quantidade de pedestres é menor em relação ao Centro. 

Sitiografia:
http://pt.wikipedia.org/

Comentando o texto "O Esquecimento Global" de Sérgio Teperman

Falar e utilizar dos recursos da natureza sem agredir o meio ambiente tornou-se moda, porém as atitudes tomadas para um ambiente tornar-se sustentável, são mínimas diante uma questão tão agravante com grandes dimensões.

 

As campanhas de consciência ambiental são indispensáveis, mas ainda são “uma gota d’água quando comparadas com o problema de ‘como conseguir a maior quantidade de energia possível, com menor dano ao meio ambiente’. Caso isso não seja obtido, não há geladeira, fogão, casa, edifício, rua, cidade ‘sustentável’ que resista.”

No passado, o mundo cometeu grandes erros contra a natureza, pois não existia consciência ambiental e nem noção que o progresso atingiria tanto o meio ambiente.

Com os critérios da sustentabilidade, o que podemos fazer é atenuar os impactos, discutindo, debatendo e propor soluções paliativas com o maior empenho e seriedade.

Clarisse Lessa


Revista aU 

O ESQUECIMENTO GLOBAL 
http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/161/artigo58416-2.asp 

Região Metropolitana de BH registra áreas nobres de risco


Maratona por condomínios revela o perigo de determinadas construções


MAURÍCIO DE SOUZA
área_risco
Vila Castela I: mansões erguidas em terreno de alto declive, com solo exposto


Engana-se quem pensa que áreas de risco só se encontram em regiões carentes, como vilas e favelas. Construções imponentes como as que “brotam” em condomínios de luxo e áreas nobres de Belo Horizonte e Região Metropolitana, na avaliação de especialistas, também podem sofrer com  deslizamentos e solapamentos.

“É preciso atentar não apenas para a condição do lote, mas, sim, para toda a área em volta na hora de se construir. O sistema geológico é dinâmico”, alerta a professora da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fernanda Borges de Moraes. A especialista acompanhou a reportagem do HOJE EM DIA em uma maratona por condomínios de luxo localizados em Nova Lima, como Estâncias Serrana, Vila Castela, Vila Alpina, Vale do Sereno, e outras áreas nobres de BH, constatando o perigo de determinadas construções.

A arquiteta destaca que certas áreas de Belo Horizonte (como o Bairro Mangabeiras), de Nova Lima e de Ouro Preto têm predominância de um solo conhecido como filito - produto de alteração de xisto, muito comum na região do Quadrilátero Ferrífero. De acordo com o geólogo do Instituo de Geociências (IGC), Friedrich Renger, o filito, em contato com a água, vira argila, tornando o solo impróprio para construções.

“A composição do solo do Bairro Mangabeiras é a mesma do Santo Antônio, por exemplo. A solução é uma drenagem bem feita e que deverá ser sempre vistoriada, pois, com o tempo, pode entupir com grandes chances de virar argila”, pontua o geólogo.

Muitas áreas nobres “são solos frágeis e de alta declividade. O custo de fundação é caro, mas o risco permanece em função da região em que se encontram”, garante a professora da UFMG. O problema, que é agravado com o desmatamento, que tira a estabilidade da vegetação (de fundamental importância para segurar o solo), é nítido em determinadas construções de luxo.

No Vila Castela I, por exemplo, duas mansões foram construídas em terreno de alto declive cujo o solo se encontra totalmente exposto. “São construções que podem ter a fundação bem feita, com alta tecnologia, mas não deixam de correr o risco em função do solo”, pontua Fernanda Moraes. Ela ressalta que, muitas vezes, a obra está tecnicamente correta do ponto de vista arquitetônico e de engenharia, uma vez que não mexem praticamente nada no solo, mas a localização (que geralmente é privilegiada pela vista) não é apropriada.

A arquiteta aponta como exemplo uma residência no Vila Serrana, construída com toda técnica e perícia, principalmente do ponto de vista arquitetônico: “Uma obra que não mexeu no solo, tem fundação bastante firme, mas está em frente a uma encosta que, se deslizar (e isso pode acontecer tanto em época de chuva como de seca), pode vir a prejudicar a edificação”, alerta Fernanda Moraes.

A arquiteta lembra ainda que no Vila Castela II, que teve o projeto de construção embargado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), duas estradas foram abertas, ambas localizadas em terreno de alto declive. O solo, com as chuvas constantes de dezembro e janeiro, desceu, formando lama na parte de baixo. Situação que pode se agravar com o barranco descendo mais ainda e prejudicando outras construções na proximidade.

“Certas áreas deveriam ser isoladas, mas o Poder Público legisla por lote e não por região. É o grande erro. O problema, muitas vezes, não vai surgir em 10 ou 20 anos, mas também não é eliminado. O tempo geológico é diferente do tempo do homem. Um filete de água que encontra espaço para entrar pelo terreno pode causar uma catástrofe, com o passar dos anos”, adverte a especialista em arquitetura.


Bairros como o São Bento, Santa Lúcia, Luxemburgo e Belvedere também não escapam da insistência de se construir em terrenos de alta declividade. No Santa Lúcia, próximo à barragem, um muro de arrimo foi construído em terreno praticamente vertical para sustentar e proteger um prédio. Mas, ao lado, um terreno vazio já mostra sinais claros de erosão. “O muro pode sofrer a ação geológica do solo vindo a cair sobre o prédio que se encontra embaixo”, alerta Fernanda Moraes.


O que algumas pessoas não sabem, também, é que o Bairro São Bento tem uma série de aterros e não se pode sair construindo nestes terrenos, enfatiza a especialista. “É preciso uma fundação de edifício para se construir uma casa no Bairro São Bento. A lógica da construção, na atualidade, aponta para casas cada vez maiores sem contato direto com o solo. Costumo dizer que ficam parecendo um paliteiro”, diz Fernanda.

Esses “paliteiros” são facilmente visíveis não apenas em condomínios de Nova Lima, mas também em bairros nobres da capital, marcados pela declividade dos terrenos.


Para Fernanda, o processo de ocupação de determinas áreas precisa ser repensado. Não é “inventar” o processo urbano, mas ter construções que não vão alterar a geologia da região. “Se a região do Belvedere, por exemplo, continuar submetida a um processo de verticalização, muitas áreas estarão comprometidas”, adverte a especialista.

Na opinião de Renger, o que falta, hoje, é a chamada engenharia geotécnica, que vai observar os problemas antes de se construir. “O ideal é a obra de engenharia que pense nas chuvas centenares ou milenares , ou seja, que acontecem a cada 100 ou mil anos. Mas isso acaba esbarrando no custo benefício”, diz o geólogo.

Para o geólogo e consultor em geologia urbana, Edézio Teixeira, em regiões de relevo montanhoso, como as que se encontram em Belo Horizonte e Nova Lima, é importante nunca abrir mão do conhecimento geológico. “Não existe uma receita de bolo. É preciso ter responsabilidade técnica e gastar mais com os estudos que envolvem a região onde se pretende construir ” salienta.

Prédio do Bonfim

Os moradores do prédio da Rua José Ildeu Gramicelli, no Bairro Bonfim, aguardam neste sábado (9) a visita de um geólogo para examinar o barranco que desabou na quarta-feira (6) sobre um galpão, provocando a interdição de 12 apartamentos. Ele, juntamente com um engenheiro irá elaborar um laudo se houve comprometimento da estrutura do prédio.

Chuvas causam maior tragédia natural do País em número de mortos

Segundo meteorologista do Inpe, maior ocupação piora as tragédias causadas pela chuva

iG São Paulo | 13/01/2011 22:05 - Atualizada em 17/01/2011 14:32

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Com mais de 600 vítimas fatais, a chuva que atinge na serra fluminense é a a maior tragédia ambiental do Pais em número de mortes. A tragédia passa os temporais que atingiram Caraguatatuba, em 1967, quando foram registradas 436 mortes.
Segundo o meteorologista do Inpe Giovanni Dolif, a estação meteorológica do centro de Teresópolis registrou 124,6 mm em 12 de janeiro, quase metade da média histórica, medida desde 1913, de 290,4 mm para o mês, na região. Até ontem, foram 250,2 mm de chuva, o que também faz quase metade do janeiro mais chuvoso que as cidades serranas do Rio já viveram, em 2007, quando choveu 517,8 mm. O mês mais chuvoso da região foi dezembro de 1937: 558 milímetros.
Em conversa com o iG, o meteorologista lembrou de alguns tragédias causadas por chuva recentes na história do país, como o Morro do Bumba, em abril de 2010, Angra dos Reis, no início do ano passado, Vale do Itajaí, em 2008, entre outros, mas alertou que a soma do número de mortos ainda não chegava ao já registrado na região serrana.
Dolif lembrou que em Caraguatatuba, em 1968, chegou a chover cerca de 500 milímetros de uma só vez, mas que o número de mortos foi menor. “O estrago material, com queda de barreiras e deslizamentos, deve ter sido maior. Mas o número de mortos foi menor, afinal, a cidade tinha uma população menor naquela época,” diz. “A tendência desses desastres naturais é sempre piorar, por causa da maior ocupação, mais construções, etc.” 
Outros desastres
O Rio de Janeiro é um Estado onde as tragédias naturais se repetem. Só o ano de 2010 foi marcado por duas grandes tragédias provocadas pelas chuvas. Na madrugada do dia 1º de janeiro, logo após as festas de réveillon, parte da pousada Sankay, na Praia do Bananal, além de sete casas vizinhas foram soterradas em Angra doe Reis. No Morro da Carioca, pelo menos 20 casas foram atingidas, totalizando 53 mortos na cidade do sul fluminense.
No dia 7 de abril o acúmulo de água provocou um grande deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói e em toda a região metropolitana da capital. Dezenas de casas construídas em cima de um antigo lixão, no Morro do Bumba, foram soterradas em uma tragédia anunciada. As 47 vítimas, além de centenas de desabrigados pagaram um preço alto pelas construções feitas em áreas de risco. No total, mais de 250 mortos foram contabilizados no Rio e em municípios vizinhos. Niterói é uma cidade marcada por tragédia. Durante a tragéria do Morro do Bumba, moradores ainda recordam e evocam a tragédia de 17 de dezembro de 1961, quando um incêndio causou a morte de cerca de 500 pessoas (70% delas crianças) na cidade.
Em 2008, a alvo da força das águas foi Santa Catarina. A tragédia começou no dia 22 de novembro e deixou 137 mortes em mais de 60 cidades afetatadas. Mais de 1,5 milhão de pessoas foram afetadas e pelo menos 25 comunidades sumiram do mapa.
Conhecida como uma das maiores tragédias naturais da história do Brasil, as fortes chuvas que resultaram em grandes deslizamentos de terra na serra de Caraguatatuba, no litoral norte paulista, mataram 436 pessoas e soterraram centenas de casas. Cerca de 30% da população ficou desabrigada  e diversos desaparecidos nunca foram encontrados.
Colaborou Natasha Madov, iG São Paulo