Entrevista com Prof. Luiz Carlos Molion (em construção)

O Professor Luiz Carlos Molion bacharelou-se em Fisica pela USP, doutorou-se em Meteorologia, e em Proteção Ambiental como campo secundário, pela Universidade de Wisconsin, Madison, WI, USA, e concluiu seu pós-doutorado no Instituto de Hidrologia, Wallingford, Inglaterra, em 1982, na área de Hidrologia de Florestas. É “fellow” do Wissenschaftskolleg zu Berlin, Alemanha, onde trabalhou como pesquisador visitante durante 1989-1990. Foi cientista-chefe nacional de dois experimentos com a NASA sobre a Amazônia. Aposentou-se do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, onde foi Diretor de Ciências Espaciais e Atmosféricas, como Pesquisador Titular III. Entre 1990-92, esteve Presidente da Fundação para Estudos Avançados no Trópico Úmido, Governo do Estado do Amazonas, em Manaus. Atualmente, encontra-se na Universidade Federal de Alagoas, em Maceió, como Professor Associado no Instituto de Ciências Atmosféricas, e desenvolvendo pesquisas nas áreas de dinâmica de clima, desenvolvimento regional, energias renováveis e dessalinização de água. É membro do grupo de Gerenciamento de Riscos climáticos da Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial.

Por e-mail, foram enviadas perguntas ao professor sobre a relação entre os fenômenos climatológicos e arquitetura e o urbanismo, após apresentação do tema do meu TFG.
Obs.: As perguntas e respostas restantes serão postadas a medida que o professor for respondendo.




Clarisse - Segundo o artigo Arquitetura da Destruição da Revista Superinteressante, o autor diz que "diante do inevitável, várias cidades ao redor do mundo estão tentando se reinventar para conviver com os efeitos do aquecimento global. (...) É preciso repensar a arquitetura das cidades e prepará-las para o pior." Com base nos seus conhecimentos e sua linha de pensamento sobre o aquecimento global, qual situação o país se encontra e como o ser humano deveria tratar os recorrentes acontecimentos como as enchentes, os deslizamentos de terra e inundação nas áreas mais vulneráveis?

Professor Molion - A primeira questão trata do aquecimento global. Bem, voce sabe minha opinião nesse aspecto. Existe uma variabilidade climática natural que tem um ciclo de 50a 60 anos. Entre 1925-46 e entre 1977-98 o clima aqueceu e entre 1947-76, o clima se resfriou. Nos próximos 20 anos, isto é, 1999-2030, será de resfriamento. Note que estamos falando de uma flutuação de temperatura inferior a 1°C em 150 anos. Isso não é nada, comparado com eras glaciais, em que as temperaturas podem variar 10°C a 15°C na média global. O autor do artigo na Revista Superinteressante falou besteira, quando mecionou aquecimento global e preparar para o pior. Chuvas intensas sempre ocorreram no passado e sempre produziram deslizamentos de terra e enchentes em áreas baixas (várzeas dos rios). Mostrei um slide, em que a frequência maior de tempestades acima de 30 mm foi maior na década dos 40 (1941-1950) na cidade de S.Paulo. O problema é dificil de se tratado pois:

1) as cidades e a area impermeabilizada cresceram muito e geram grandes volumes de água que não tem onde se acomodar (1 mm de chuva= 1 litro por m2).

2) No mundo, 55% da população vivem em grandes cidades. No Brasil, mais de 80% vivem nas grandes cidades. E vai crescer mais, porque as pessoas querem conforto (água encanada, energia, acesso mais fácil a alimentos, etc.). A população, em geral mais pobre, está ocupando áreas indevidas, sujeitas a inundações e deslizamentos.

Clarisse - Na sua opnião como cientista e membro do grupo de Gerenciamento de Riscos climáticos da Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial, qual solução arquitetônica e/ou urbanística daria para a ocupação urbana das áreas de risco geológico?

Professor Molion
- As soluções devem ser específicas para cada cidade, cada área, levando em conta a densidade populacional, a fisiografia (topografia, rede de drenagem natural (rios), cobertura vegetal) e tipos de solos. No caso da região serrana do Rio, por exemplo, temos uma "capinha de solo" que se acumulou ao longo de milhões de anos sobre as rochas. Esse solo não tem estabilidade alguma e até vegetação de porte alto, como árvores, colaboram com sua destruição (deslizamento), porque as árvores sofrem o torque imposto pelos ventos e ajudam a desagregar o solo. Nesse caso, há que serem feitas obras de contenção de encostas, como paredes de concreto com estacas cravadas nas rochas, fazendo um "terraceamento" com cobertura de vegetação rasteira (tipo grama) para minimizar a erosão. O "enchimento" do terraços deve seguir as normas de drenagem clássica, com materiais de diferentes granulações, para facilitar a drenagem da água superfícial, e com "aberturas" na base (subsuperficial, em contato com a rocha) dos muros de concreto, para permitir escoamento subterrâneo (da água percolada) até a rede hidrográfica. Se não for feita essa contenção, não há como proteger pessoas, sejam pobres ou ricas.
"Voce, como arquiteta, deve analisar o exemplo dos Incas, em Machu Pichu , uma proteção de encostas com terraceamento absolutamente fantástica que dura até hoje - mais de mil anos. (...) Acho que BH não é muito diferente da região serrana. By the way, aquela região do Japão tinha um muro de proteção contra tsunami, mas a onda incial teve 37 metros de altura e o muro não funcionou!"
Prof. Molion




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